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História do Franchising: da Singer ao McDonald’s, como nasceu o modelo que move bilhões

Abrir uma franquia é o caminho escolhido por milhares de brasileiros que desejam empreender, mas a maioria chega sem experiência de gestão. De acordo com levantamento da Associação Brasileira de Franchising (ABF), 40,9% dos candidatos não têm vivência alguma no comando de negócios e outros 18,2% acumularam menos de dois anos nessa função. Essa falta de preparo costuma gerar ansiedade, medo e, muitas vezes, decisões precipitadas.

É justamente nesse ponto que conhecer a história do franchising se torna mais do que cultura geral: trata-se de um aprendizado prático. A evolução desse modelo mostra erros, acertos e explica por que a franquia se tornou uma forma de reduzir riscos — sem eliminá-los por completo.


As origens medievais

A palavra “franchise” vem do francês medieval e significava liberdade ou privilégio concedido pelo soberano. Reis e governos autorizavam indivíduos a explorar pedágios, feiras ou serviços públicos. Embora distante do modelo atual, essa lógica de concessão foi a semente do sistema de franquias.


Século XIX: a revolução da Singer

Após a Guerra Civil Americana, a Singer Sewing Machine Company precisava levar suas máquinas de costura a todo o território dos Estados Unidos. Em 1858, adotou contratos territoriais: os revendedores pagavam taxa inicial e tinham exclusividade de área.

O crescimento foi explosivo: de 3 mil máquinas vendidas em 1858, a empresa saltou para 500 mil em 1880 e alcançou 3 milhões em 1913. Foi o primeiro grande exemplo de rede estruturada com suporte e marca — algo entre concessão e franquia moderna.

No mesmo período, cervejarias europeias obrigavam pubs a comercializar apenas suas marcas, um embrião do que hoje chamamos de franquias de distribuição.


Martha Matilda Harper e o primeiro formato de negócio

Se a Singer inovou na distribuição, quem deu forma ao franchising moderno foi uma mulher. Em 1891, a canadense Martha Matilda Harper, ex-doméstica, abriu um salão de beleza em Rochester (EUA) e criou o “Harper Method”.

Ela oferecia:

  • treinamento completo,

  • territórios exclusivos,

  • suporte contínuo.

O resultado: mais de 500 salões espalhados pelo mundo. Harper foi pioneira no chamado business format franchising, no qual não apenas o produto, mas todo o sistema é transferido ao franqueado.


O franchising ganha escala

No início do século XX, outras indústrias seguiram o caminho:

  • Ford e General Motors criaram redes de concessionárias;

  • postos de combustíveis passaram a operar sob bandeira;

  • Coca-Cola franqueou engarrafadores em 1899;

  • Rexall, em 1902, montou a primeira rede de farmácias em escala nacional.

Era o nascimento do franchising de distribuição de produtos, baseado na exclusividade comercial de marcas.


O boom do pós-guerra e o fast food

Após a Segunda Guerra Mundial, milhões de soldados voltaram para casa em um ambiente de consumo aquecido e infraestrutura rodoviária em expansão. O cenário foi perfeito para redes padronizadas.

  • Holiday Inn (1952) mudou o setor hoteleiro.

  • KFC (1955) transformou a receita do coronel Sanders em rede global.

  • Dairy Queen e Carvel popularizaram franquias de sobremesas.

Mas o divisor de águas viria em 1955, quando Ray Kroc abriu o primeiro McDonald’s em Des Plaines (Illinois). Ao transformar o conceito dos irmãos McDonald em um sistema replicável, criou o método QSV&C (Qualidade, Serviço, Valor e Limpeza). O McDonald’s mostrou que o segredo não estava apenas no produto, mas no sistema de treinamento, suporte e marketing — o franchising moderno.


O Brasil entra em cena

No fim dos anos 1950 e início dos 1960, o modelo desembarcou no Brasil. As primeiras a aderir foram redes de ensino de idiomas, como CCAA e Yázigi. A partir daí, o franchising começou a se espalhar por diferentes setores.

Em 1987, foi fundada a Associação Brasileira de Franchising (ABF), que ajudou a profissionalizar o setor e pressionou pela criação da primeira lei de franquias, sancionada em 1994. Hoje, o Brasil é um dos mercados mais dinâmicos do mundo nesse segmento.


Crescimento, abusos e regulação

A rápida expansão também trouxe problemas. Nos EUA, redes como Minnie Pearl’s Chicken venderam centenas de franquias sem suporte e quebraram. O caso do Chicken Delight, condenado por práticas abusivas, evidenciou a necessidade de regras.

Isso levou à criação da legislação da Federal Trade Commission (FTC) em 1978, que obrigou os franqueadores americanos a divulgar informações detalhadas. No Brasil, além da lei de 1994, a atualização pela Lei 13.966/2019 trouxe mais transparência e segurança jurídica.


O franchising no século XXI

Hoje, o modelo está presente em mais de 100 países e movimenta trilhões de dólares. Redes globais como McDonald’s, Subway e Marriott se expandem com adaptações locais.

No Brasil, o setor faturou R$ 273 bilhões em 2024, segundo a ABF, crescendo acima da média da economia. A diversidade de formatos é uma das marcas atuais:

  • microfranquias, com investimento a partir de R$ 10 mil;

  • modelos home based, quiosques e unidades móveis;

  • parcerias digitais e multicanais.


O que a história ensina ao franqueado

A Singer provou a força da distribuição. Harper mostrou que sistema e suporte fazem a diferença. O McDonald’s consolidou o franchising como modelo global.

Mas a lição principal é clara: marca forte não garante sucesso. O que sustenta o franqueado é a qualidade do sistema, o suporte real e a disciplina na execução.

No Brasil, a lei obriga a entrega da Circular de Oferta de Franquia (COF), documento essencial para entender taxas, suporte, histórico e desempenho da rede. Conversar com franqueados atuais e ex-franqueados continua sendo um dos passos mais valiosos.


O franchising nasceu como resposta a um problema de expansão e padronização. Continua sendo, até hoje, uma ponte entre grandes marcas e empreendedores locais.

Ele não elimina os riscos, mas oferece “mapa, bússola e companhia na estrada”. A decisão final, porém, sempre estará nas mãos do franqueado.

E fica a pergunta: qual difícil você escolhe enfrentar — empreender sozinho ou contar com a força de uma rede?

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