Abrir uma franquia fora do Brasil: desafios e oportunidades para empreendedores

Expandir um negócio para outro país é um sonho para muitos brasileiros que buscam empreender no exterior. O franchising surge como uma opção segura, pois permite operar um modelo de negócio já testado, com suporte da marca. Segundo a Associação Brasileira de Franchising (ABF), diversas redes nacionais já estão presentes em países como Estados Unidos, Portugal, Paraguai, Bolívia, Chile, Colômbia, Uruguai, México, Argentina e Espanha. Mas como funciona esse processo na prática? Especialistas esclarecem os principais pontos dessa jornada.

Aspectos contratuais e suporte ao franqueado

A advogada Thais Kurita, especialista em franchising e varejo, explica que o contrato da franquia costuma seguir as leis brasileiras, mesmo quando a operação ocorre no exterior. “O franqueado recebe a Circular de Oferta de Franquia (COF) no Brasil e assina o contrato aqui, mas ele precisa considerar as adequações necessárias para o país de destino, como suporte, logística e fornecedores”, explica Kurita.

Ela alerta que é fundamental contratar um contador e um advogado locais para garantir conformidade com as regras fiscais e trabalhistas do país onde a franquia será instalada. Cada nação tem suas próprias exigências tributárias e burocráticas, que podem impactar diretamente na operação do negócio.

O papel do franqueador na adaptação ao mercado internacional

Neander Souza, consultor especializado em franquias, ressalta que escolher uma marca com experiência internacional pode fazer toda a diferença. “Empresas que já atuam fora do Brasil costumam oferecer treinamentos completos, suporte operacional e auxílio na adaptação do modelo de negócio ao novo mercado. Algumas até enviam consultores para acompanhar os primeiros meses da unidade”, afirma.

A logística de abastecimento também varia conforme a marca e o país. Algumas franquias homologam fornecedores locais para reduzir custos e evitar entraves alfandegários, enquanto outras mantêm a importação de insumos do Brasil. Modelos híbridos, que combinam importação e produção local, também são comuns.

Visto de permanência: a franquia facilita o processo?

Ao contrário do que muitos acreditam, comprar uma franquia não garante um visto de residência no exterior. “O ideal é que o investidor já tenha um visto e depois pense na franquia como um negócio. Adquirir uma unidade para tentar obter um visto pode ser arriscado, pois a concessão depende de diversos fatores externos”, alerta Kurita.

Além disso, abrir uma franquia em outro país exige um estudo aprofundado sobre hábitos de consumo e concorrência. “Nem toda marca que faz sucesso no Brasil terá a mesma aceitação fora. Fatores culturais, regulamentações e preferências do público local podem impactar a performance da unidade”, complementa Souza.

Testando o mercado antes da expansão

Muitas redes optam por abrir unidades próprias antes de disponibilizar franquias no exterior. Esse é o caso da Doutor Hérnia, rede de clínicas especializadas em tratamentos não cirúrgicos para problemas na coluna. Antes de oferecer a franquia nos Estados Unidos, a marca abriu uma unidade piloto na Flórida para entender melhor o comportamento do público local e realizar ajustes estratégicos.

Outro exemplo é a Dr. Shape, rede de suplementos alimentares e artigos esportivos. Ao inaugurar uma unidade em Portugal, os franqueadores perceberam a necessidade de adaptar o layout da loja e ajustar o mix de produtos de acordo com a demanda local.

Presença do franqueado na operação

Para garantir o sucesso da franquia no exterior, a participação ativa do franqueado na gestão é essencial. “Mesmo com uma equipe bem treinada, a presença do dono faz diferença para manter os padrões da marca, garantir um bom atendimento e compreender o funcionamento do mercado local”, ressalta Souza.

Franquias brasileiras que já atuam no exterior

Algumas redes brasileiras estão expandindo sua atuação internacional e buscam novos franqueados. Confira algumas opções:

• Doutor Hérnia – Rede de clínicas de tratamento não cirúrgico de hérnia de disco, com operação nos Estados Unidos e em processo de expansão para Portugal e Chile. Investimento inicial: a partir de 50 mil dólares.
• Dr. Shape – Franquia de suplementos alimentares e artigos esportivos, com presença no Brasil e em Portugal. Investimento inicial: a partir de 100 mil euros.
• Face Doctor – Especializada em procedimentos estéticos faciais e corporais, iniciou sua expansão internacional por Portugal, com planos de crescimento na Europa. Investimento inicial: cerca de 50 mil euros.
• Sóbrancelhas – Rede de estética facial com mais de 200 unidades no Brasil e operações na Argentina, Bolívia, Portugal e Estados Unidos. Investimento inicial: varia conforme o país, começando em 31 mil dólares.

Embora o franchising seja uma alternativa segura para empreender no exterior, é fundamental planejar cada etapa com cautela. Entender o mercado local, buscar suporte jurídico e financeiro e contar com uma franqueadora experiente são fatores que podem aumentar as chances de sucesso nessa jornada.